Explicando o movimento Stop Killing Games: quem são e o que defendem
  • 13:37, 14.07.2025

Explicando o movimento Stop Killing Games: quem são e o que defendem

Nos últimos anos, ouvimos frequentemente várias expressões e slogans sobre a indústria de videogames estar "morrendo", e cada um atribui diferentes fatores e argumentos a esse conceito. Atualmente, os temas em destaque no universo dos games não são apenas questões de gráficos, FPS, otimização, microtransações e outros componentes técnicos que afetam a percepção do jogo em si, mas também os direitos de propriedade sobre o jogo — um tema bastante específico e nem sempre óbvio, especialmente quando raramente se recorre a aspectos jurídicos.

É aqui que entra o movimento Stop Killing Games, liderado pelo youtuber Ross Scott (conhecido como Accursed Farms), que se tornou o ponto central da discussão: quais direitos os jogadores têm após a compra de um jogo digital?

Vamos então entender do que se trata essa campanha, de onde ela surgiu e qual é seu objetivo.

   
   

O que é o Stop Killing Games?

O movimento Stop Killing Games é uma iniciativa lançada por consumidores de videogames que exige que as editoras mantenham o acesso aos jogos mesmo após o fechamento dos servidores — especialmente se o jogo foi vendido a preço integral. A ideia do movimento é que, se uma empresa retira o acesso a um jogo pelo qual as pessoas já pagaram, isso não é apenas inconveniente — é uma forma de destruição digital.

Stop Killing Games
Stop Killing Games

A campanha começou em abril de 2024, quando a Ubisoft fechou The Crew — um jogo de corrida dependente de conexão online que vendeu mais de 12 milhões de cópias. Apesar de haver um modo solo, o jogo se tornou completamente inutilizável assim que a Ubisoft desligou os servidores.

Este não foi o primeiro jogo a "desaparecer", mas esta situação se tornou a mais pública e dolorosa, destacando claramente um problema que se acumulava há anos. Os jogadores não viram isso como um caso isolado, mas como uma falha sistêmica — a ilusão de propriedade na era digital. A situação com The Crew levantou novamente a questão fundamental: os jogadores realmente possuíam o jogo?

Jogo The Crew
Jogo The Crew

Quem está por trás do movimento Stop Killing Games?

Ross Scott, conhecido pela série Freeman’s Mind, tem se dedicado há anos ao tema da preservação de mídia. Sua campanha Stop Killing Games não é apenas uma série de vídeos no YouTube, mas uma iniciativa jurídica e política que inclui uma petição dentro da Iniciativa de Cidadania Europeia — um dos poucos instrumentos que realmente podem mudar a legislação da UE.

O argumento de Ross é claro: jogos vendidos sem um prazo de validade especificado não devem simplesmente desaparecer. O sistema atual depende demais da "bondade" das editoras e não garante que sua biblioteca de jogos permanecerá sua em 5, 10 ou 20 anos.

Iniciador do movimento Stop Killing Games — Ross Scott 
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Por que The Crew se tornou o ponto de explosão

The Crew foi o "estopim". A decisão da Ubisoft de fechar os servidores sem alternativa fez com que todos os jogadores — mesmo aqueles que jogavam apenas solo — perdessem o acesso. Eles não podiam nem mesmo iniciar o jogo. E isso apesar de:

  • o jogo ter sido vendido em plataformas como Steam e Ubisoft Connect;
  • exigir conexão constante à internet;
  • não ter modo offline;
  • ainda ser usado por milhares de pessoas.

A indignação não foi apenas pelo desaparecimento do jogo, mas pelo precedente: uma editora pode destruir um produto pelo qual já foi pago — sem a obrigação de mantê-lo ou reembolsar.

Fechamento dos serviços de The Crew
Fechamento dos serviços de The Crew

O que realmente exige o movimento Stop Killing Games

Apesar do slogan simples, a campanha tem objetivos claros e práticos. Ela não exige a preservação eterna de todas as funções online — trata-se de um acesso razoável aos jogos comprados, mesmo após o término do suporte oficial.

As principais demandas do Stop Killing Games incluem:

  • a presença de modos offline em jogos de campanha solo;
  • proteção jurídica contra o fechamento repentino de servidores, que impossibilita o acesso aos jogos comprados;
  • permissão para criar servidores privados, caso o desenvolvedor não suporte mais o jogo;
  • reconhecimento da propriedade digital — a ideia de que comprar um jogo deve conceder acesso permanente, e não uma licença temporária.
   
   

Este movimento não exige que desenvolvedores suportem jogos para sempre, nem visa punir estúdios por fecharem projetos antigos. O objetivo é justiça para o consumidor e acesso de longo prazo: quem comprou um jogo deve poder jogá-lo — sem limitações de tempo.

Para alcançar esse objetivo, a campanha combina iniciativa jurídica e conscientização pública. Ross Scott lançou uma petição oficial dentro da Iniciativa de Cidadania Europeia — um mecanismo poderoso que pode potencialmente levar à adoção de uma nova legislação na UE. Se a petição alcançar o número necessário de assinaturas até o final de julho de 2025, será o primeiro passo significativo na proteção legal dos direitos digitais dos gamers.

Isso é tanto uma questão de preservação do patrimônio cultural quanto de proteção dos direitos dos consumidores. Afinal, hoje os jogos não são apenas entretenimento, mas também uma forma de arte digital moderna e, em alguns casos, um investimento.

Site Stop Killing Games
Site Stop Killing Games

Crítica e conflito com Pirate Software

Nem todos concordam com os objetivos ou métodos do movimento. Um dos principais críticos da campanha é o desenvolvedor independente e streamer Pirate Software (nome real — Jason Thor Hall), que publicou um vídeo criticando duramente a iniciativa. Ele a chamou de vaga, irrealista e potencialmente criadora de um fardo financeiro excessivo para pequenos estúdios, além de levar a complicações legais.

Crítica ao movimento Stop Killing Games por Pirate Software no Reddit
Crítica ao movimento Stop Killing Games por Pirate Software no Reddit

Suas principais preocupações:

  • a iniciativa pode criar pressão legal sobre pequenos estúdios;
  • nem todos os jogos são facilmente convertidos para offline ou têm seu código de servidor aberto;
  • isso pode levar a uma regulamentação excessiva, prejudicando a inovação.

Na visão de Pirate, exigir que cada jogo tenha um caminho de preservação após o desligamento dos servidores pode ser prejudicial para desenvolvedores menores. Ele também apontou que a iniciativa desvia a atenção de problemas mais urgentes dos direitos digitais.

A crítica atingiu fortemente a campanha Stop Killing Games: o número de assinaturas diminuiu, a compreensão se tornou confusa, e muitos jogadores se afastaram.

   
   

Ross Scott respondeu diretamente, lançando uma resposta em vídeo detalhada, na qual desmascarou todas as afirmações e críticas feitas pelo Pirate Software. Ele explicou que o objetivo da campanha não é o suporte eterno aos jogos nem um ataque a pequenos estúdios. Trata-se de garantias mínimas para os jogadores — especialmente em casos onde o jogo foi vendido sem um prazo de validade claro.

A discussão entre os dois criadores rapidamente se transformou em uma rivalidade pública. Parte da comunidade acusou o Pirate Software de sabotar a campanha em um momento crítico. Ross até afirmou que foi por causa disso que o número de assinaturas na petição diminuiu significativamente. Enquanto isso, o jogo do próprio Pirate Software — Heartbound — começou a ser boicotado por jogadores que se sentiram traídos.

   
   
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Por que isso importa: o dilema da propriedade digital

Este tema é muito mais amplo do que The Crew, Ross Scott ou Pirate Software. No cerne do movimento Stop Killing Games está uma questão chave da atualidade: quando você compra um jogo digital — o que exatamente você está adquirindo?

Ao contrário dos meios físicos, os jogos digitais podem ser removidos a qualquer momento. Eles frequentemente dependem de servidores, contas ou sistemas DRM que podem ser desativados. Devido a essa fragilidade, os videogames são extremamente difíceis de preservar para o futuro. Quando uma editora desativa um jogo, muitas vezes não há um meio legal de jogá-lo novamente. Sem acesso ao código-fonte ou à parte do servidor, mesmo as melhores tentativas de preservação são impotentes.

Livros, filmes e música têm bibliotecas, arquivos e instituições de preservação estabelecidas. Videogames modernos — não. Centenas de jogos dos anos 2000 e 2010 já estão completamente perdidos, e os jogadores são forçados a recorrer à pirataria ou emuladores para reviver a experiência do jogo. Isso não é apenas um problema de direitos do consumidor — é uma catástrofe cultural.

   
   

Estado da petição e conquistas do Stop Killing Games

Até julho de 2025, a petição da Iniciativa de Cidadania Europeia reuniu mais de 75% das assinaturas necessárias. Com a aproximação do prazo final, é difícil dizer se ela alcançará seu objetivo. Mas mesmo em caso de falha, o movimento já alcançou algo importante — ele colocou a preservação dos jogos digitais na pauta da discussão global.

Autores conhecidos, como MoistCr1TiKaL e SomeOrdinaryGamers, apoiaram publicamente a iniciativa, divulgando informações no YouTube e Twitch. Mesmo que a petição não seja bem-sucedida, a pressão sobre a indústria está aumentando.

Assinaturas da petição Stop Killing Games
Assinaturas da petição Stop Killing Games

O movimento já atingiu vários marcos críticos:

  • pressiona as editoras a reverem suas políticas de desligamento de jogos
  • iniciou uma discussão global sobre direitos digitais
  • uniu jogadores, ativistas e defensores dos direitos dos consumidores

Pela primeira vez, as editoras enfrentam a pergunta direta: o que acontece com o jogo após o desligamento dos servidores?

Autoridades governamentais na França, Alemanha e Austrália já começaram a examinar as queixas apresentadas pela iniciativa, o que indica que os órgãos de defesa do consumidor estão levando o problema a sério.

Cena do jogo Postal 2
Cena do jogo Postal 2

Opinião do autor sobre a atividade do Stop Killing Games

É claro que o movimento Stop Killing Games é direcionado com boas intenções para a comunidade de jogos, especialmente para aqueles jogadores que gostam de games mais antigos, que já têm muitos anos. Mesmo com o envelhecimento moral ou técnico dos jogos, eles continuam sendo favoritos para muitos jogadores que ainda passam tempo nesses projetos ou pelo menos retornam a eles de tempos em tempos.

Mas será possível alcançar o objetivo final, as metas estabelecidas, e isso é realmente apropriado? Sim e não. Os desenvolvedores tomam certas decisões, como fechar servidores por razões internas: custos extras, mudanças na estratégia futura, expiração de licenças, etc.

   
   

Tudo isso pode estar definido em seus documentos legais, o que é totalmente legítimo e torna toda essa luta do Stop Killing Games pelos direitos dos consumidores sem sentido, já que os usuários "são os culpados por não terem lido isso no acordo de licença".

Em muitos documentos legais de desenvolvedores e editoras, está especificado que os jogadores compram não o jogo em si, mas o direito de usá-lo. Isso, por razões objetivas, não é óbvio para todos, já que praticamente ninguém lê essa documentação dos jogos.

Ambas as partes (desenvolvedores-editoras e Stop Killing Games) devem chegar a um compromisso comum, que, apesar do fechamento dos servidores ou outros nuances legais, deve prever o acesso ao jogo: publicar uma versão "pirata" oficial para que os jogadores possam continuar a desfrutá-la, ou trabalhar para que no futuro não ocorram incidentes semelhantes. Também é necessário tornar a informação sobre o direito de uso ou propriedade do jogo mais aberta para o comprador de uma vez por todas.

   
   

Se a campanha de Ross Scott mudará a legislação — é desconhecido e improvável. Mas ela já traçou um caminho que pode trazer suas correções à indústria dos jogos.

Adendo de 14.07.2025

O vice-presidente Nicolae Ștefănuță apoiou a iniciativa Stop Killing Games, assinando a petição e prometendo que promoverá o desenvolvimento dessa questão. A postagem correspondente sobre o apoio apareceu primeiro nos Stories de sua página no Instagram, depois foi notada por usuários no X (Twitter).

Nicolae Ștefănuță escreveu que apoia as pessoas que iniciaram essa iniciativa (nota: Stop Killing Games). Segundo ele, se um jogo foi vendido, ele pertence ao consumidor/comprador, e não à empresa.

Conteúdo adicional disponível
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