Na segunda parte da entrevista com o CEO da Team Next Level, Mikhail Kane Blagin compartilhou sua opinião sobre a transferência de Aleksandr s1mple Kostyliev para a BC.Game, detalhes sobre a formação do primeiro elenco da Passion UA, e refletiu sobre os resultados do elenco estrelado da Team Falcons. Mikhail também falou sobre o papel de CEO da TNL, por que decidiu mudar o foco das atividades, se ele voltará à posição de treinador e sobre os objetivos do clube.

Você pode conferir a primeira parte da entrevista através deste link.

No seu canal do Telegram, você escreveu que s1mple fez a escolha certa ao aceitar a transferência para a BC.Game. Não acha que foi um passo de desespero? Afinal, a verdadeira tentativa de retorno foi com a FaZe. Ele apresentou um desempenho razoável por dois meses e elevou o nível da equipe. Não ofereceram contrato — e ele acabou na BC.Game. Isso não parece um passo forçado?

Veja bem. Eu entendo quem é Sasha. Do ponto de vista de uma história bonita, gostaria que ele tivesse permanecido na FaZe. Mas, pelo que entendi, ele chegou lá não na melhor forma, um pouco desequilibrado. Considerando seu caráter complicado e o fato de que nos treinos os resultados não foram os mais estáveis, entendo que poderiam ter surgido conflitos, como em outras equipes.

A FaZe pode aceitar essa energia, mas apenas se isso levar a resultados superaltos. E o que eles conseguiram com ele não foi suficiente para justificar as dificuldades que surgiram. Se ele tivesse chegado em sua melhor forma, eles teriam jogado de maneira mais interessante, e talvez tudo tivesse sido diferente. Teríamos visto uma bela história. Mas o caminho deles terminou da forma como terminou.

Sobre a BC.Game, escrevi isso porque analisei as outras opções para ele na cena profissional. Sasha é um jogador em torno do qual você precisa construir uma equipe. Não pode simplesmente se integrar a um elenco já formado. A única equipe pronta que poderia aceitá-lo era a FaZe. E embora eles pudessem ter mostrado ótimos resultados com ele, é uma equipe onde todos já ganharam majors. Eles não precisam de emoções intensas, pressão e conflitos. Eles querem um fim de carreira digno e tranquilo, sem brigas e reclamações. E só jogadores jovens, famintos por vitórias, que ainda não têm nada a perder, podem aceitar a energia de Sasha. Portanto, é uma equipe que precisa ser construída do zero.

Havia duas opções: o projeto BC.Game ou algum coletivo americano. Na cena americana, há uma crise séria de snipers. Houve um tempo em que Sasha já elevou a Liquid. Lembramos daquela final contra a SK [no ESL One: Cologne 2016]. Aquele destaque no Cache, que por algum motivo foi removido — e até hoje não entendo como. Isso é parte da história que amamos. Espero que o tragam de volta.

Então, me parece que a primeira opção é tentar construir uma carreira na BC.Game. Mas o mais importante é que Sasha quer voltar. Se ele ler isso, gostaria que ele não desistisse. Que tentasse alcançar suas melhores condições na BC.Game.

E a segunda opção é a cena americana. Quero que o CS americano volte a ser competitivo. A história de s1mple é uma chance. Em torno dele, podemos construir um clube. E essa será uma história incrível, que pode trazer de volta o interesse pelo CS nos EUA. Agora, lá está em declínio, porque as equipes estão constantemente perdendo. Esses são meus sonhos. Mas como será — veremos.

O principal é que a história com a BC.Game, onde tentam construir um elenco em torno de s1mple — talvez até estrelado, se houver recursos suficientes — não se transforme em algo como os Falcons. Que, aparentemente, construíram um elenco, depois outro, um terceiro — com NiKo, sem NiKo, contrataram quem puderam, gastaram milhões, mas o resultado, de fato, não veio.

Bem, era de se esperar. Porque quem ganha é a equipe. E os Falcons ainda estão longe de ser uma equipe. Embora, aliás, sem kyousuke, eles mostraram resultados razoáveis. Minha opinião: o elenco precisa ter "operários" — aqueles que desempenham a função de sacrificar sua vida pelo bem do companheiro. Nem todos podem acumular muitos abates.

Eles reuniram NiKo, m0NESY, kyousuke — e cada um deles precisa de muitos abates. Se um deles não apresenta estatísticas, surge a sensação de que ele não é efetivo. Ele perde confiança. São mais jogadores individuais. Mas se olharmos para os Vitality, por exemplo, com ZywOo e ropz — são superestrelas, mas estão sempre prontos para jogar pela equipe.

Os Falcons são um grande problema para zonic. Ele mesmo se dispôs a resolvê-lo. Vamos ver se ele consegue. Se sim, será um grande ponto positivo em seu currículo. Considerando que ele venceu majors com a Astralis, construiu uma era com ZywOo na Vitality. Mas se não conseguir com os Falcons, mesmo com tanto investimento, isso também dirá muito.

É exatamente sobre isso que estou falando. Nos últimos anos, enquanto zonic trabalha com os Falcons, surgem cada vez mais dúvidas sobre sua competência. Talvez ele possa ser comparado a José Mourinho — que já foi um treinador de futebol de ponta, mas agora treina o Fenerbahçe.

As pessoas simplesmente gostam de criar ídolos. Não diminuo os méritos de zonic, de forma alguma. Mas é preciso entender como tudo funciona. A contribuição do treinador é de 10%, cada jogador tem 10%, e há uma série de outros fatores: preparação, ambiente de vida, apoio da organização, psicólogos, sorte. Tudo isso contribui com um percentual. E sua contribuição para o sucesso da Astralis foi de 10–15%, não mais. Ele não construiu tudo sozinho.

O problema com os Falcons é que quando você reúne estrelas, ninguém te dá tempo. Você compra jogadores prontos, esperando resultados "aqui e agora". Entendo sua dor de cabeça. Mas acredite, qualquer outro treinador não recusaria a oportunidade de trabalhar nessas condições. Transformar cinco superestrelas em campeões é mais fácil do que construir tudo do zero.

Embora a história mostre, e no futebol foi assim, que isso é praticamente impossível. No início dos anos 2000, o Real Madrid era chamado de "galácticos" por assinar com jogadores estrelados, mas os resultados foram poucos.

Sim, mas eles ganharam uma Liga dos Campeões. Naquela época, eles tinham "operários" que ajudaram a conquistar isso. Depois, compraram mais uma estrela, quebraram o equilíbrio e tudo desmoronou. Foi isso que aconteceu. Eles não conseguiam mais "carregar o piano", embora jogassem bonito.

E com os Falcons, parece uma história semelhante. No CS, parece que duas estrelas por equipe é ok. Três já é demais. Mesmo o torneio em Colônia mostrou: m0NESY caiu, sukey atirou, mas não havia jogo coletivo. NiKo também caiu, e dois "operários" não conseguiram carregar o time.

Exatamente. É desejável que haja três jogadores dispostos a se adaptar: o capitão e dois "operários". E mais duas estrelas. Assim, por exemplo, é estruturado o Vitality. Mas tudo bem, o tempo dirá.

E para finalizar o assunto s1mple. Para mim, foi muito estranho que ele não tenha sido considerado pela Liquid. O ultimate joga uma partida, depois cinco não. Ou a Cloud9: às vezes querem, às vezes não querem, segundo rumores compram o NAVI Junior, depois não. E então, de repente, BC.Game. Foi um choque.

Veja bem. Estamos falando de s1mple, que... Sim, ele foi o melhor jogador do mundo. Mas agora ele é um jogador que está buscando a si mesmo, mas com o mesmo caráter complicado. As equipes entendem: ele tem problemas de caráter, e não têm pressa em convidá-lo.

Ninguém está pronto para construir um elenco em torno dele até que ele mostre que é o mesmo s1mple. Aquele de quem falamos. Aquele que está entre os cinco melhores jogadores do mundo. Aquele que joga por horas sem parar.

Conte-nos como foi formado o primeiro elenco da Passion UA. Se não me engano, Zeus fez uma declaração — em um vídeo ou em seu canal do Telegram — de que vocês teriam escolhido jogadores juntos para reviver a pro100. Mas no final você os "atraiu" para a Passion UA. Quão verdadeiro é isso? Pode esclarecer a situação?

A situação foi a seguinte. A organização me forneceu um certo número de jogadores para teste — acho que 10 pessoas. Desses dez, escolhi cinco que considerei os melhores. Entre eles estava um jogador com o nick zeRRoFIX, que posteriormente se tornou jogador principal da Passion UA.

No entanto, em uma das posições, não gostei de como um determinado jogador estava atuando. Era um papel importante — digamos, o star player da equipe. Achei que precisávamos de alguém que ditasse o ritmo. Durante as conversas, meu conhecimento sobre os jogadores disponíveis baseava-se principalmente naqueles com quem eu interagia.

Como tecnicamente gostei mais do zeRRoFIX, perguntei a ele se conhecia alguém para a posição de star player. Ele me sugeriu um candidato — jackasmo. Assisti a uma demo do jogo dele, marquei pontos importantes — e tomei a decisão. Na época, jackasmo estava passando por testes na equipe do Zeus e estava pronto para se juntar a eles.

Houve uma conversa com Zeus. Eu disse: "Olha, gostei do Nikita, gostaria de tê-lo comigo. E já tenho o zeRRoFIX." Ele respondeu: "Espere, zeRRoFIX é meu jogador e quero levá-lo para mim." Ofereci um compromisso: zeRRoFIX fica comigo, jackasmo com ele. Ele disse: "Isso não está certo. zeRRoFIX já passou por testes comigo, antes de vocês. Acho que ele deveria estar comigo."

Discutimos, não chegamos a um consenso. Achei que, se ele não estava disposto a compartilhar, então eu também poderia reivindicar o jackasmo. Agora, quando tudo já passou, penso que talvez pudesse ter cedido Nikita e seguido outro caminho. Mas na época, gostei muito do jogo dele e, não nego, me esforcei para trazê-lo para a equipe.

Basicamente, a questão era apenas sobre dois jogadores — jackasmo e zeRRoFIX. Os demais não estavam em nossa "competição". Eles estavam em testes com Zeus antes. zeRRoFIX já estava pronto para jogar comigo, jackasmo com Zeus. Mas no final, devido ao conflito, consegui atrair ambos.

Espero que Zeus me tenha perdoado. Conversamos muito sobre isso. Claro, lamento a situação. Mas é preciso entender — quando se forma um elenco jovem, todos querem os melhores. Isso é competição. É assim.

No final, mais uma equipe sob sua liderança fez algo incrível: na segunda tentativa, chegou ao major e foi muito competitiva. Apesar dos resultados, poucos meses após o major, você foi substituído, o elenco foi reestruturado. Você, se não me engano, escreveu que a decisão foi um choque para você. Por que a diretoria da Passion UA tomou essa decisão?

Vou dizer o seguinte. Quando você forma um elenco, escolhe jogadores que podem realizar as tarefas necessárias. Infelizmente, na última formação, baseamos mais no princípio: "pegamos quem é gratuito", em vez de quem gostaríamos.

Por causa disso, os jogadores não estavam em suas funções, e isso é sempre um ponto negativo. Começaram atritos no processo de treinamento e em outros aspectos. A diretoria escolheu a opção: ficar com o elenco atual, fazer 1–2 mudanças e seguir em frente. Essa era uma das opções. Reestruturar a equipe, mantendo-me no elenco, seria muito mais caro e complicado. E assim, seguiram por um caminho viável.

Nunca houve o objetivo de apenas "chegar ao major". O objetivo era vencer o major. E para vencer um major, é preciso se tornar um participante constante. Quando perdemos o coletivo — Jambo e fear saíram — minha opinião é que foi dada uma avaliação errada de como a equipe deveria ser reestruturada para lutar pelos objetivos mais altos. Mas isso já é outra história. Cada um tem seu caminho. Eles seguiram o deles.

Para mim, o mais importante era que fosse uma equipe ucraniana forte. E estou feliz que, apesar de tudo, essa equipe foi realmente forte. No geral, estou satisfeito com isso.

Apenas, quando li a notícia, fiquei muito surpreso. Anteriormente, pelas declarações, inclusive suas e do próprio Zinchenko, parecia que você tinha carta branca completa para formar o elenco. Que a última palavra era sua.

Infelizmente, não recebi essa carta branca. Porque as candidaturas que eu queria ver — não foram contratadas.

Você não ficou muito tempo sem trabalho — logo se juntou à Team Next Level, mas já em um novo papel. O que o fez mudar de posição de treinador para CEO?

Em primeiro lugar, o desejo de passar mais tempo com os filhos. Tenho quatro filhos, dois deles bem pequenos: um ano e meio e três anos e meio. É um momento em que eles precisam da minha atenção. O trabalho de treinador consome cerca de 12 horas por dia — realmente 12. Já como CEO, apesar dos dias ocupados, ainda me dá algumas horas extras que posso passar com a família.

Antes dos majors, vivíamos com a equipe no bootcamp, eu não via meus filhos, acordava pensando em CS. Eu gosto disso, mas entendo o quanto esse período da vida é único — estar perto dos pequenos. Talvez eu volte a treinar, mas certamente não em um futuro próximo.

Já passou bastante tempo desde sua nomeação. Você se adaptou completamente ao papel?

Agora entendo muito melhor todas as dificuldades que organizações como a nossa enfrentam. Somos novatos no mercado, e a concorrência é enorme. Com base na experiência da Passion UA, entendo que o objetivo principal é manter o elenco. Se você o perde, retrocede muitos passos. Fazemos de tudo para que nossos jogadores estejam satisfeitos, mas há muitos "tubarões" com muito mais recursos ao nosso redor.

Se olharmos do ponto de vista das possibilidades financeiras e infraestrutura, a TNL se parece mais com quem agora? Passion UA, B8, Monte ou NAVI?

Acho que, em parte, agora nos parecemos com a B8. Vamos ver qual estabilidade financeira conseguiremos alcançar. No momento, tudo se sustenta principalmente em investimentos de investidores privados. Mas queremos construir nosso modelo, que tornará a TNL completamente independente.

Acredito que na estrutura moderna de eSports, uma equipe de Counter-Strike pode alcançar isso. A Valve queria se afastar das ligas fechadas — e acabou criando sua própria liga fechada, onde equipes do top 15 ou top 20 do mundo recebem enormes privilégios. Se você entrar lá, sua equipe automaticamente se torna lucrativa.

Portanto, entramos no eSports sem nenhum tipo de inovação — nós, como muitos, investimos dinheiro na esperança de que o projeto se pague. Mas temos uma compreensão clara: os resultados esportivos nos trarão retorno. Agora, estamos mais focados na realização de objetivos esportivos, e não como um produto de mídia. E vamos correr atrás disso mais tarde.

O que exatamente está sob sua responsabilidade agora?

Basicamente — todos os processos na organização. Controle dos treinamentos dos jogadores de CS e Dota, análise de seu estado psicológico, definição de metas, desenvolvimento do setor de mídia. A propósito, estamos enfrentando dificuldades com a mídia — não somos suficientemente reconhecidos. Estamos justamente buscando nosso caminho.

Queremos que as pessoas conheçam uma nova estrela que está surgindo no CS ucraniano. Temos grandes ambições: nos tornarmos participantes constantes dos majors. E lá — lutar pelos títulos mais altos. Recentemente, ganhamos a qualificação para a EPL. Acho que muitos torcedores ucranianos nos conheceram e descobriram essa equipe.

Além disso, minha tarefa é controlar tudo o que acontece. Tenho mais de 15 anos de experiência em eSports, e já lidei com a maioria dos processos. Antes — do lado do jogador ou treinador, agora — do lado do CEO.

Procuro estar aberto aos funcionários, às sugestões. E até mesmo para aqueles que estão apenas interessados no projeto e querem de alguma forma ajudar ou aconselhar um caminho de desenvolvimento. Queremos criar uma marca que os torcedores ucranianos lembrem — e que ainda os alegre com vitórias.

Com sua chegada, o elenco da TNL demonstrou um progresso impressionante em apenas alguns meses. Na comunidade, isso é chamado de "efeito Misha Kane". Com o que você mesmo associa isso?

Bem, esse efeito realmente existe — 100% (risos). Mas, espero que no início eu apenas tenha dado aos rapazes um pouco de confiança de que eles conseguiriam. Gosto muito do caminho que eles escolheram. Fomos imediatamente conquistar a Suécia — e conseguimos.

Agora estamos em uma fase importante. Major de novembro. Em 7 de outubro, os convites serão distribuídos. Vou me envolver no trabalho — como analista, analisar os pontos fracos, ajudar o treinador e o elenco. Procuro estar ao lado dos rapazes, compartilhar experiências, apoiar. Não devemos superestimar minha contribuição — ela existe, mas não é 100%, talvez uns 5%. Mas estou feliz por ter contribuído para o sucesso deles. No restante — é mérito deles. Eles são incríveis. Não quero que parem. Vemos como mais uma equipe incrível está surgindo. E estou feliz por estar ao lado dela.

Como você vê o estado atual do CS2? O que você mudaria?

Há muito o que mudar. Em primeiro lugar — o tickrate. Eu traria de volta o tickrate de 128 e faria o jogo que todos amam.

Gostaria que alguém que entende bem dos aspectos técnicos explicasse: por que a Valve, apesar dos pedidos e do fato de que a versão anterior do jogo funcionava melhor com 128 tickrate, ainda fez algo que funciona pior. Para mim, isso é inexplicável.

Entendo que eles não farão isso, mas se fizessem — isso satisfaria a comunidade duas vezes mais. Todos apoiariam isso.

Todo o resto é secundário. Mas eu ainda... sabe o que faria? Pegaria alguns entusiastas da cena profissional, adicionaria alguns desenvolvedores a eles — e criaria novos mapas para o CS competitivo. Porque jogar no Dust2 por 20 anos é um absurdo. Já vimos tudo nele.

Counter-Strike é sobre luta intelectual. E com o mapa atual, ela se torna cada vez menos expressiva. O retorno de Overpass? Já jogamos nele por anos — quanto mais? Isso dá vantagem aos jogadores experientes, mas não incentiva os novos. Adicionando novos mapas, nivelamos as condições. E o retorno dos antigos — ao contrário, aumenta a diferença. Isso eu mudaria.

E, por fim, algumas palavras para os fãs da TNL.

Em primeiro lugar, quero dizer que seu apoio é muito importante. Vemos que nos importamos com vocês. Lemos os comentários nas postagens, ouvimos vocês. Vamos agradar com promoções, sorteios. Mas o principal — vamos nos esforçar para vencer por vocês. Fiquem conosco, tragam amigos. Queremos construir uma grande comunidade. Obrigado por estarem conosco.