O renomado apresentador e entrevistador James Banks compartilhou seus pensamentos sobre trabalhar no IEM Katowice, seu apoio à Ucrânia e o estado dos eSports britânicos. Na conversa com a Bo3.gg, ele falou sobre a importância de criar uma conexão emocional com os jogadores, seu sonho de um dia se tornar apresentador de palco em eventos como Katowice e Colônia, e os desafios que equipes e jogadores enfrentam no CS2 moderno. Banks também falou sobre seus amigos lutando nas linhas de frente na Ucrânia e como ele continua a apoiar o país durante a guerra.

Vamos começar discutindo seu apoio à Ucrânia. Você expressou isso abertamente nas redes sociais, mas muitos acreditam que o esporte deve se manter fora da política. Qual é a sua opinião sobre isso?

Acho que é uma escolha pessoal se alguém quer falar sobre isso ou não. Tenho amigos russos, que não apoiam a guerra, mas ele não precisa declarar isso publicamente. Para mim, como alguém que vive na Ucrânia e vê a realidade da situação, é claro que a Rússia é um estado terrorista. No entanto, também digo que nem todos os russos são ruins. Generalizar assim só espalha mais ódio e maldade.

As pessoas podem não querer política nos eSports porque querem se concentrar na diversão do jogo, e essa é a escolha delas. Mas para mim, a Ucrânia tem sido meu lar desde 2019, e eu sempre a apoiarei. Não vou ficar bravo com alguém que não compartilha meu ponto de vista, mas seria ótimo se mais pessoas, especialmente jogadores e figuras notáveis, se manifestassem. Ainda assim, cada um tem sua própria perspectiva, e não podemos obrigar ninguém a se manifestar.

Como está a vida para você na Ucrânia agora? Há algum problema contínuo, como falta de energia?

Durante o inverno do ano passado e até o verão tivemos muitos problemas. Costumava acordar às 5:00 da manhã para fazer streaming por 3 a 4 horas antes de a eletricidade acabar. Tive que trabalhar em torno do cronograma de energia. Algumas pessoas perguntaram por que fiquei, mas me recusei a deixar minha casa.

Quando a guerra começou, eu saí porque era perigoso. Eu poderia sair facilmente com meu passaporte britânico, mas minha esposa e eu nos mudamos para Uzhhorod depois. É uma área mais segura que não foi atingida por bombas, embora ainda enfrentemos cortes de energia. Escolhi ficar porque não quero ser movido pelo medo.

Sou muito sortudo porque posso sair, posso ir a eventos e moro em um local seguro. Mas há muitas pessoas que não estão tão seguras assim. A família da minha esposa perdeu a casa em Kherson e agora não tem nada, sabe, como se tivessem passado a vida inteira trabalhando para isso.

Você mencionou que pode facilmente cruzar a fronteira com seu passaporte britânico. Você teve alguma experiência interessante na fronteira?

A primeira vez que cruzei, pegaram minha identidade ucraniana porque eu não estava no país há algum tempo, e acharam que poderia ser falsa. Tive que fazer uma nova. Alguns funcionários da fronteira nos reconhecem por causa da NAVI, enquanto outros perguntam por que ainda moro na Ucrânia.

É complicado para nós. Minha esposa, sendo ucraniana, pode viver na Europa, mas eu não posso por causa do Brexit. O Reino Unido também tem regras de documentação muito rígidas, tornando difícil para ela se mudar para lá apesar do nosso casamento. Tivemos que escolher entre ficar na Ucrânia ou nos mudar para lugares como a Sérvia, mas decidimos pela Ucrânia. O processo de fronteira em si não é tão ruim, embora possa levar algumas horas.

Você é vocal nas redes sociais sobre o apoio à Ucrânia, mas de que outra forma você apoia o país durante a guerra?

No meu stream, levanto a conscientização e dou toda a receita — subs, doações, cheers — para várias instituições de caridade ucranianas. Às vezes, vai para causas infantis, outras para o exército ou amigos na linha de frente. Também educo meu público internacional, incluindo aqueles de países como a China, onde as pessoas estão distantes da guerra e podem não entendê-la totalmente. Compartilho minhas experiências e perspectivas, mas nunca tento forçar ninguém a concordar comigo. Meu objetivo é ajudar os outros a ver a situação de um ângulo diferente.

Você mencionou doar para caridade. Você tem amigos ou conhecidos que estão atualmente nas linhas de frente?

Sim, duas pessoas que ajudamos vêm à mente. Um é um cara que conheci em uma academia em Kyiv. Ele está agora na linha de frente, embora felizmente ainda vivo. Ele envia fotos e mensagens quando precisa de ajuda. Outro é Lucky_Cryak, um ex-jogador da equipe ucraniana IKLA. Eu o conheci quando ele era um jovem feliz e divertido. Agora ele está lutando na guerra, o que é surreal.

Também tenho um amigo de Londres que veio para a Ucrânia para ajudar, não como soldado, mas transportando suprimentos e oferecendo assistência médica. Além disso, o marido da irmã da minha esposa estava na linha de frente. É assustador quando você vê tudo isso e percebe como tudo é real. Mas há muitas pessoas fazendo um ótimo trabalho para nos manter seguros e continuar lutando.

É incrível como tantas pessoas do exterior estão ajudando a Ucrânia, certo?

Honestamente, eu não sabia até cerca de um ano após o início da guerra. Fomos para Kyiv, e eu estava olhando ao redor como, "Há mais estrangeiros aqui agora do que quando morava aqui." Isso foi louco. Eles vêm de todo o mundo, querendo nos ajudar. Eu até os chamaria de mercenários, de certa forma. Eles estão apoiando de maneiras que eu não esperava que as pessoas fizessem.

Vamos falar sobre sua carreira como apresentador. Por que você é frequentemente convidado para apresentar torneios? Na sua opinião, o que te destaca?

Eu não sei. Acho que talvez seja por causa da minha paixão e dedicação. Nunca me vejo como o melhor entrevistador ou apresentador, mas tenho muito amor pelo jogo. Os fãs e jogadores sentem isso. Tenho ótimos relacionamentos com muitos jogadores. Vi muitos deles crescerem e sinto que posso falar com eles de uma boa maneira.

Recebi mensagens de alguém como Karrigan, após uma entrevista difícil de perdedor. Ele me agradeceu por ter tornado mais fácil para ele naquele momento difícil, com lágrimas nos olhos. Isso me fez sentir bem — ser capaz de traduzir uma experiência difícil para uma câmera. É o mesmo com momentos positivos.

Lembro quando a G2 ganhou em Dallas. Havia tantas histórias, e eu filmei com eles depois. Por causa da minha conexão com os jogadores, conseguimos ouvir um lado que normalmente não apareceria. Talvez seja por isso que as pessoas gostam e por que sou contratado.

Você mencionou que não se considera o melhor entrevistador. Qual diria que é seu maior talento?

Acho que meu maior talento é provavelmente meu entendimento dos jogadores e como eles se sentem em momentos chave. Acho que minha força é conseguir conectar com o lado emocional das coisas.

Neste evento, o público tem sido bastante temperamental. Algumas equipes, como a NAVI, recebem um enorme apoio, mas outras, como a Spirit, são vaiadas. Como você, como apresentador, lida com essas mudanças de humor da plateia?

Acho que você tem que entrar no clima da plateia, certo? Sempre haverá algumas vaias. Na Polônia, eles vão torcer por uma equipe como a NAVI e vaiar uma equipe como a Spirit. Desculpe, estou um pouco doente. Você sempre terá plateias tendenciosas.

No Rio, por exemplo, a FURIA teve um super apoio. Quem quer que jogasse contra eles era vaiado como louco. Às vezes eu até incentivo a outra equipe e digo, "Não, não, não, isso não é justo." Algumas vaias são amistosas, mas outras podem ser escuras e agressivas.

Você transforma isso em uma piada para tentar tornar as coisas mais leves e, se for uma plateia de bom ânimo e cheia de energia, você tenta absorver essa energia e devolvê-la a eles.

Você acha que a Spirit merece as vaias que recebe?

Eu não acho que a Spirit merece as vaias. Eles são uma equipe muito boa com ótimos jogadores. Mas como eles são uma equipe russa, não vai cair bem na Polônia. No entanto, eles podem se sair bem no Cazaquistão.

Depende de onde você vai. No Rio, por exemplo, a FURIA recebeu aplausos massivos, mas a NAVI também recebeu algum respeito, mesmo não jogando bem. Houve aquele incidente em que o s1mple twittou sobre pessoas xingando ele e fazendo gestos obscenos, mas no final, a plateia ainda mostrou respeito por ele. Isso é como deveria ser. Cada plateia é diferente, e é sempre louco.

Estamos agora no IEM Katowice. O que o legado de Katowice significa para você?

Oh, cara, o legado e a história de Katowice são incomparáveis. Colônia e Katowice têm tanta história porque existem há muito tempo. Cada jogador sonha em ganhar um desses troféus. O Major é sempre o número um por causa do título que a Valve deu.

Mas Katowice e Colônia têm seu próprio prestígio. Basta olhar para o apEX no Vitality. Ele nunca ganhou Katowice, e ainda está perseguindo esse sonho. Agora ele está na grande final com uma chance de ganhar.

Você pode olhar para trás e ver quem ganhou há 10 anos — quem ganhou no 1.6, no CS:GO, e agora no CS2. Essa história torna mais interessante para os fãs. É por isso que esses eventos sempre trazem o melhor nos jogadores, na plateia e na atmosfera.

Eu entendo o que significa para os fãs, mas como esse torneio o impactou pessoalmente?

Oh, sinto que já trabalhei em três Katowices. A primeira vez que consegui fazer isso, foi como uma grande comemoração para mim mesmo. Finalmente consegui estar aqui. É um momento em que você pode dizer, "Eu consegui."

Ainda não alcancei meu objetivo, no entanto. Eu quero ser o apresentador de palco um dia, talvez quando o OJ se aposentar. Não apenas fazendo entrevistas — quero estar naquele palco, animando a arena. Isso e Colônia ainda são metas minhas.

Mas eu amo a energia, a paixão e a sensação deste evento. Alguns fãs me disseram, "Este é meu primeiro evento, e escolhi Katowice." Eu digo a eles, "Você escolheu bem." Se você está escolhendo seu primeiro evento, Katowice, um Major ou Colônia é o caminho a seguir. Esses são vencedores. Se alguém em casa está se perguntando qual evento assistir primeiro, eu diria para ir a um desses.

Qual vitória em Katowice você se lembra mais? Você realmente gosta deste evento?

A que eu mais me lembro foi quando a NAVI venceu, mas não havia público por causa do COVID. Foi louco. Eu estava na arena, e não havia rugidos — apenas funcionários. Era como eu, imprensa, comentaristas como você, e funcionários da ESL. Nós éramos os que torciam pela NAVI. Foi muito estranho porque você espera a elevação do troféu e um grande rugido, mas em vez disso, houve apenas aplausos. Eu me lembro disso porque foi como nada que eu já tinha experimentado — mais como um evento de estúdio.

Você acha que os jogadores acharam chato sem público?

Para alguns jogadores, a plateia ajuda, mas para uma equipe como a NAVI, eu não acho que importa tanto. Uma vez que eles estão no servidor e conectados, tudo o mais desaparece. Mas levantar o troféu sem plateia — sim, isso é um pouco mais triste.

Qual formação na história de Katowice você considera a mais lendária?

Uau, essa é difícil. Acho que têm que ser as formações da fnatic. Mesmo que alguns jogadores tenham mudado, o núcleo permaneceu. Eles são quem mais ganharam em Katowice. Eles são a organização com mais vitórias aqui. Jogadores como KRIMZ fizeram parte dessa jornada e alcançaram coisas incríveis ao longo de suas carreiras. Então sim, fnatic é a escolhida.

Vamos falar sobre a cena de eSports britânica. Parece ter quase desaparecido. O que está acontecendo?

Eu gostaria de saber. Estou longe da cena britânica agora. Só sei que precisamos de jogadores para se unirem, acreditarem em si mesmos e seguirem em frente, mesmo sem uma organização. Eles precisarão se basear na paixão e habilidade para se provarem. No momento, não temos muito — apenas EPIC.LAN. Não temos grandes equipes ou organizações. Espero que alguém se destaque e mude isso.

Endpoint recentemente congelou seu elenco. ITB se foi. Os eSports britânicos têm um futuro nos próximos anos?

Tem, mas terá que crescer do zero. Os jogadores podem precisar jogar com pouco ou nenhum salário, movidos puramente pela paixão. É difícil porque viver no Reino Unido é caro. Muitos jogadores podem ter que conciliar universidade ou outras responsabilidades. Só precisamos dessa próxima geração de jogadores se unindo e fazendo acontecer.

Você acha que o novo sistema de classificação VRS da Valve é um grande fator?

O sistema VRS é um fator, mas não é a razão completa. Os custos, falta de oportunidades e interesse limitado de patrocinadores também desempenham um papel. Os patrocinadores podem preferir outras regiões com melhores opções. É difícil, cara.

Ok, vamos falar sobre sua carreira de entrevistador. Quem é seu jogador favorito para entrevistar?

Provavelmente o Karrigan ou o Aleksib. Ambos são líderes e oferecem ótimas percepções. Eles sabem fazer entrevistas e fornecem muito material para trabalhar. Sempre que os entrevisto, eles dizem coisas que geram mais perguntas. Eles são como mestres nas entrevistas por si mesmos.

Como você lida com jogadores que são fechados e não querem falar?

Você só tem que respeitar isso. Posso fazer as perguntas, mas é escolha deles como responder. Magixx me deu respostas de uma palavra muitas vezes. ropz já me disse "sem comentários" antes. Você só tem que seguir em frente, fazer a próxima pergunta e tentar suavizar. Não tenho controle sobre isso.

Quem te deu a resposta mais inesperada ou perspicaz?

A mais inesperada foi de Magixx. Ele uma vez disse: "Vamos ser ferrados," e eu fiquei tipo, "O que diabos?" Outra vez, ropz me deu um "sem comentários" sobre seu desempenho, o que me surpreendeu porque ele geralmente dá ótimas respostas. Quanto ao mais perspicaz, provavelmente B1ad3. Ele é muito analítico e entra em grande detalhe se você fizer as perguntas certas. O mesmo vale para chopper da Spirit. Eles podem dar muitas informações valiosas, embora às vezes isso seja complicado para os produtores por causa das restrições de tempo.

Você prefere entrevistar treinadores como B1ad3 ou jogadores como chopper?

Jogadores, se eles puderem dar respostas perspicazes, geralmente são melhores para os fãs. Pessoalmente, adoraria sentar e fazer uma longa entrevista com B1ad3, mas os fãs querem ver os jogadores porque eles são os favoritos.

Você participa de muitos eventos. Como você lida com a sobrecarga e o burnout?

Sou sortudo. Não fico esgotado porque minha esposa está comigo em quase todos os eventos. Ela me ajuda com as coisas do dia a dia e torna minha vida mais fácil. Nunca estou sozinho. No passado, quando você fazia eventos consecutivos sozinho, tentava equilibrar academia, trabalho e preparação, e simplesmente não havia horas suficientes no dia. Às vezes, você tinha um dia de 12 a 13 horas com vários melhores de três partidas, e então tentava dormir e fazer tudo de novo. Era quase impossível. Agora, com o apoio dela, eu posso lidar com isso.

Você já sentiu que precisava de uma pausa?

Não realmente. Geralmente há uma lacuna entre os torneios. Posso fazer um ou dois seguidos, depois ir para casa por uma semana ou duas. Por exemplo, estou fazendo Katowice agora, fiz BLAST antes disso, e depois terei várias semanas de descanso. Isso ajuda muito.

Vamos falar sobre o confronto NAVI vs. Spirit. Quais são seus pensamentos sobre essa rivalidade?

Os jogos NAVI vs. Spirit são sempre dolorosos para o meu coração. Eu quero que a NAVI vença, mas a Spirit geralmente vence. A partida da fase de grupos que eles acabaram de jogar foi incrível. Mostrou um novo lado da NAVI. A Spirit, por outro lado, não parece tão forte aqui como no Major ou BLAST no início deste ano. No palco, a Spirit tende a ter um desempenho melhor. Mas se a NAVI puder manter seu nível atual, acho que eles podem vencer por 2-1 e enfrentar a Vitality na grande final. Vou estar rezando para a NAVI vencer, mas vai ser difícil, não importa quem eles enfrentem.

Como você avalia a forma atual das equipes?

Spirit eram a mais forte, mas elas mostraram que ainda têm problemas. Até mesmo contra a Virtus.pro com um substituto, elas lutaram no segundo mapa. Train foi ótimo, mas Ancient foi difícil. Eu diria que NAVI, Spirit, e Vitality são os três primeiros agora. Mas a diferença entre as equipes é muito menor, então qualquer um poderia superá-los.

Quem você acha que vai dominar em 2025?

Eu adoraria que a NAVI dominasse, mas a Vitality está muito forte agora com ropz. Se eles tiverem mais tempo para se ajustar, ter ZywOo, ropz, e flameZ em melhores posições é assustador para outras equipes. Vitality, NAVI, e Spirit estão todas no topo agora.